A metamorfose, de Franz Kafka
A Metamorfose (Die Verwandlung, Abril, 94 páginas, 2010) traz uma alegoria sobre a mudança de vida. Sobre a difícil tarefa de escolher e seguir um caminho diferente, quando algo ou alguém, nesse caso a família, praticamente já o traçou, sem perguntar a opinião ou desejo do maior envolvido.
Gregor Samsa é um jovem que precisa trabalhar como caixeiro viajante a fim de pagar a dívida dos pais com o gerente que o emprega. Os pais não têm mais condições de trabalhar, então o filho assume esse débito. O rapaz, deitado em sua cama, já no primeiro momento transformado num inseto, faz as contas de quantos anos ainda precisa trabalhar para saldar a dívida. É uma parte muito triste ver uma pessoa presa a um emprego que não faz bem. E ao mesmo tempo é tão comum que não percebemos, ainda assim dá um aperto no coração, talvez a sensação seja pela forma como é descrita, como tudo caminha no texto. Gregor se coloca no lugar dos pais, daquele pai cruel e ele bem poderia ter escolhido uma profissão que não exigisse tanto, e que o agradasse, é revoltante. Gregor logo tira esse pensamento de sua cabeça. Percebe-se que ele é uma boa pessoa, somente isso, então podem se aproveitar dessa bondade de quem não sabe dizer “não”, ou às vezes nem pode.
Outra parte que sempre que leio me assombra é a visão do pai jogando maçãs em Gregor. Franz Kafka (1883-1924) passa a repugnância sem palavras que o Sr. Samsa sente ao ver o filho transformado. Uma das frutas fica presa em suas costas e o acompanha durante a história, o fere mais do que a ferida física – feriu também a mim, leitora – apodrece…
Essa é uma história repulsiva, de um jovem que desperta e se vê transformado em um inseto gigante, para a vergonha de sua família, que, ao deixá-lo preso em seu quarto, tenta escondê-lo dos olhos dos outros. Não está escrito em que inseto Gregor Samsa se transforma, porém se faz implícito na mente de muitos leitores que é uma barata, a imagem já está fixada.
A irmã acaba, sem que seja solicitado, cuidando daquela criatura que todos evitam. E quando não suporta mais tenta persuadir a família, que na realidade já pensava em se livrar dele há muito.
Um grande simbolismo sobre mudança e as pessoas à volta terem dificuldade em aceitar o diferente do que a sociedade está acostumada, ou quando essas mesmas pessoas manipulam alguém para que consiga manter o conforto sem esforço.
O descaso com que o pai trata Gregor é uma influência do pai do próprio autor, que o tratava muito mal. Kafka escreveu em 1919 o livro Carta ao Pai (Brief an den Vater, L&PM, 112 páginas), publicado postumamente, em que fala sobre o que sentia em relação a ele, um livro duro.
“Eu era para ele um nada dessa espécie”.
Sem dúvida A Metamorfose é um livro sensacional e deve ser lido e relido.
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Tenho essa edição da Abril, mas li uma outra. Acho q vou aproveitar e ler essa esse ano 🙂
É uma ótima edição, Hannah. Recomendo a leitura. Depois podemos conversar sobre o livro. =)