Resenha: Histórias de fadas, de Oscar Wilde
Amo os contos de fadas de Oscar Wilde (1854-1900), são ricos, profundos e trazem tantos ensinamentos.
Fiz esta releitura e o meu favorito continua sendo O Rouxinol e a Rosa, tão delicado e triste.
No primeiro conto, O Príncipe feliz, a amizade e o amor se mostraram fortes mesmo quando o ser humano tenta estragar tudo com sua vaidade. A estátua do Príncipe está lá no alto, vendo tudo e se preocupando com todos, até que uma Andorinha fica para trás enquanto todas as outras seguem para um lugar quente, pois o inverno se aproxima. A Passarinho ajuda o Príncipe a se doar às pessoas necessitadas, mas a Andorinha precisa ficar todo o inverno por ali.
“Mesmo que meu coração seja feito de chumbo, não posso evitar chorar.”
Em O gigante egoísta, as crianças se divertem no quintal do gigante, pois ele viajou para visitar um amigo, e nisso se passaram muitos anos. Quando ele volta, fica furioso com as crianças ali e as expulsa, depois constrói um muro em volta do terreno. Acontece que toda a alegria também se afasta e ali dentro era sempre inverno e tristeza. Até que algo fantástico acontece.
O conto O amigo dedicado nos mostra que todos em algum momento nos deparamos com amizades de mão única. Aquelas que a pessoa se aproveita, mas quando o outro precisa a pessoa sempre desvia.
“Não adianta eu ir ver meu pequeno Hans enquanto dura a neve — dizia o Moleiro à sua mulher —, pois quando as pessoas estão com problemas o melhor é deixá-las sozinhas, para que não tenham de se aborrecer com visitas. Pelo menos essa é a ideia que tenho da amizade, e tenho a certeza de que estou certo. E por isso esperarei até chegar a primavera, quando então irei visitá-lo, e ele poderá dar-me uma grande cesta de margaridas, o que o fará muito feliz.”
Em O foguete notável, vemos o ego de um sujeito que pensa ser o mais importante de todos.
“Frequentemente mantenho longas conversas comigo mesmo, e sou tão inteligente que muitas vezes não compreendo uma só palavra do que estou dizendo.” (Frase muitas vezes atribuída de forma errada ao próprio autor e não ao personagem do conto.)
O Rouxinol e a Rosa é o meu conto favorito! Uma história sobre doação e amor, e como há pessoas interesseiras. A moça diz que só dançará com o rapaz se ele lhe der uma rosa vermelha, então ele corre em busca da flor, o problema é que só há rosas brancas. O Rouxinol percebe o problema e se doa para conseguir a flor.
O jovem rei conta sobre o dia em que o Príncipe seria coroado, então ele passa a sonhar sobre como suas coisas belas, como roupas e joias são conseguidas de forma que fazem seus súditos sofrerem.
“Na guerra — respondeu o tecelão —, os fortes fazem escravos dos fracos, e na paz os ricos fazem os pobres seus escravos.”
Em O aniversário da Infanta, vemos como a maldade pode corroer até o coração das jovens. Em seu aniversário de 12 anos ela pode receber seus convidados e dançar com eles. E um deles se apaixona, mas o coração da menina não traz bondade.
O filho da Estrela começa com lenhadores encontrando um bebê abandonado exatamente onde caiu uma estrela. Um deles o leva para casa a fim de que sua mulher cuide dele. Ela reclama, pois têm muitos filhos, mas seu coração amolece e eles o criam como mais um filho. O rapaz cresce e se torna belíssimo! Até que uma atitude dele o faz virar um ser horrendo. Ele sai em busca de reparar sua maldade. No caminho seu coração se mostra bom e ajuda quem precisa.
O personagem de O pescador e sua alma deseja se casar com a Sereia que pescou, mas ela diz que apenas conseguirá se ele se separar de sua alma. O rapaz vai atrás da bruxa para que o ajude. Nem ela deseja que ele faça tamanha maldade contra si, mas o ajuda.
São histórias de doação humana, de amizade e sonhos. De seres fortes que recebem sempre algum tipo de lição por seus atos. Histórias de fadas faz parte de um belíssimo box publicado pela Editora Nova Fronteira, e traz mais dois livros: O retrato de Dorian Gray e Um marido ideal e outras peças.
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