ResenhaSegunda Guerra Mundial

Resenha: Nazistas entre nós, de Marcos Guterman

Em seu livro, o Doutor em História Marcos Guterman analisa alguns dos grandes nomes do nazismo (1939-45). Em sua fuga, alguns vieram parar aqui na América do Sul. Eles tiveram o merecido julgamento por todas as mortes e sofrimentos causados? Alguns, com a ajuda de outros países, puderam levar uma boa e confortável vida que tinham na época do Holocausto.

Já na apresentação Nazista entre nós (Editora Contexto, 192 páginas, 2016), Guterman questiona, “como explicar que muitos desses vilões tenham conseguido, depois da guerra, encontrar um lugar entre nós, isto é, desfrutar da vida em liberdade como se nada tivessem feito, como se fossem parte da mesma sociedade civilizada que eles tanto se esforçaram em destruir?”

“Nos três primeiros anos depois da guerra, enquanto 7 milhões de pessoas lutavam para conseguir retomar suas vidas em algum país que as acolhesse, os Estados Unidos emitiram 40 mil vistos, mas negaram sistematicamente a entrada para judeus que haviam escapado do Holocausto, enquanto ao menos 10 mil nazistas receberam status de refugiados de guerra e puderam entrar.”

Klaus Barbie (1913-91), depois da guerra, ficou conhecido como “O açougueiro de Lyon”. “O carrasco desenvolveu e aperfeiçoou técnicas terríveis de tortura e de sevícias contra aqueles que tiveram o azar de cruzar seu caminho quando ele desempenhava suas funções era Gestapo”.

Barbie foi para a Bolívia, onde conseguiu se estabilizar como um grande empresário. Mas teve alguns problemas com “caçadores de nazista”, o que, inicialmente, acabou não dando em nada, pois a Bolívia passava por uma ditadura e ninguém estava interessado em cumprir a lei. Lá encontrou emprego e viveu bem durante muito tempo. Fundou um partido para simpatizantes do nazismo. E dizia ter a consciência tranquila.

“A prisão de Montluc, em Lyon, ainda ecoava os gritos de suas vítimas quando Barbie lá entrou, para enfrentar um julgamento que, em tudo e por tudo, deveria servir de exemplo de que a Justiça, em casos de crimes contra a humanidade, deve ser implacável, mesmo que seja tardia.”

Josef Mengele (1911-79), ou Anjo da Morte, é um dos nazistas mais conhecidos, ele era responsável pela seleção de quem morreria e que seria enviado para o trabalho forçado.

Na Alemanha, Mengele fez as mais bizarras experiências com pessoas. Com muitos contatos, ele conseguiu fugir e veio para a América do Sul, e não houve de fato muito esforço para capturá-lo. Ele morreu em Bertioga, SP.

O arquiteto Albert Speer (1905-81) foi tido como “o bom nazista”, era o responsável pela criação de Germânia, que seria a capital do mundo. Uma estrutura surreal. Speer era o ministro favorito de Hitler. Joachim Fest, um dos maiores biógrafos do ditador, escreveu o livro Conversas com Albert Speer (Editora Nova Fronteira, 216 páginas, 2012), onde fala sobre seus planos, diz que “ninguém tinha acesso a Hitler como ele”. “Sentenciado a 20 anos de prisão após a guerra, hoje se sabe que Speer omitiu diversos fatos sobre seu papel no regime em suas memórias.” (DW Brasil, Melinda Reitz e Julia Hitz.)

Interessante ver em Nazistas entre nós, como Fest pode ter escondido certas informações sobre Speer e como muitos ajudaram a limpar sua ficha.

Speer assumiu o Ministério de Armamentos. As fábricas usavam “mãos de obra escrava em condições desumanas”. Speer, assim como todos, disse que apenas seguia ordens e sugeriu “fazer um alerta ao mundo a respeito dos perigos da tecnocracia.” Segundo ele, “80 milhões de pessoas foram privadas de sua capacidade de pensar”, através do rádio, “tornando-as sujeitas ‘aos desejos de um só homem’”. A tecnologia evoluiu e esse uso errado acompanhou o crescimento.

Adolf Eichmann (1906-62) viveu na Argentina por muitos anos, com ajuda de muitos, e em 1960 foi levado para Jerusalém e julgado. Pode ser lido mais em Eichmann em Jerusalém, livro de Hannah Arendt.

Percebemos como os nazistas no pós-guerra tinham bastante “sorte” e também contavam com ajuda de muitos lados, de muitos que apoiavam o nazismo, fizeram parte dele, para fugir e se esconder ou levar a vida de forma normal, com todos os benefícios de uma boa pessoa. Fica o questionamento sobre a confiança, sobre as monstruosidades cometidas naquele tempo e que encontraram apoiadores em diversos lugares.

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Resenha publicada também nos jornais Em Foco, Brusque, SC, e Correio do Cidadão, Guarapuava, PR.