Resenha: O BlackBerry de Hamlet, de William Powers
“Este livro fala sobre um desejo e uma necessidade, sobre encontrar um lugar tranquilo e espaçoso no qual a mente tenha liberdade para vagar. Todos sabemos como é esse lugar, e costumávamos saber como chegar lá. Mas, ultimamente, estamos com dificuldades para encontrá-lo”, página 15.
William Powers fala sobre diversos pontos da história que mostram a evolução da tecnologia para a comunicação e como elas foram recebidas, como quando mostra que Sócrates era contra uma tecnologia que surgia naquele tempo: a escrita para anotar os pensamentos, os discursos… Fala sobre isso na obra Fedro, de Platão.

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“Qual será a definição de popularidade daqui a dez anos?”, pergunta o autor depois de explicar sobre uma moça que recebia 300.000 mensagens de textos por mês. De 2010 — quando o livro foi publicado — até hoje o número de mensagens se tornou algo absurdo. Gostaria de saber a opinião do autor dobre os “influenciadores” vazios de hoje, que recebem milhares de mensagens e curtidas por dia e têm seguidores fanáticos.
O livro é riquíssimo, importante para entender a evolução da tecnologia e como ela nos afeta, como caminhamos para um abismo, felizes. Contanto que tenha Wi-Fi e quem dê muitos likes nas fotos da descida.
Claro que nem toda tecnologia é ruim. Tempos que ter consciência de como usá-la de forma que nos ajude e não nos prejudique.
“Gênios são raros, mas ao usar as telas como usamos agora, pulando o tempo inteiro, garantimos que todos teremos menos momentos engenhosos e traremos menos criatividade associativa para qualquer tipo de trabalho que façamos”, página 65.
Novamente se fala sobre o ócio, já falamos um pouco sobre ele na resenha de A cultura importa, de Roger Scruton.
Muitas tecnologias tomaram espaço de outras e tantas outras, dadas como certo de que logo seriam substituídas continuam firmes — o autor usa o exemplo das dobradiças que deram lugar às portas de correr, porém continuam aí.
O BlackBerry de Hamlet se refere a uma “tábua”: “Ao contrário do que a plateia moderna supõe a princípio, na época de Shakespeare a palavra “tábua” remetia a um suporte de escrita. Como as imagens registradas ali podem ser apagadas, a imagem é coerente”, página 132.
O livro fala da tecnologia com foco no celular, que atrapalha a nossa vida. E hoje a questão se tornou quase uma epidemia com multitelas. Crianças, jovens, adultos e idosos não escapam do vício, da necessidade de viver com o rosto grudado na tela. O perigo é tanto que surgiu o “pescoço de celular”, o “dedo de celular”… As pessoas desaprenderam a escrever à mão.
Há muito tempo se discute o fim do livro físico, mas acredito que antes que o livro eletrônico tome o espaço do físico, os dois perderão todo o espaço, o interesse. A humanidade tende a escolher a ignorância (vide o tanto de seguidores que “influenciadores” de nada têm) e os livros estão perdendo essa batalha.
O BlackBerry de Hamlet (editora Alaúde, 232 páginas, 2012) foi publicado originalmente em 2010 e é bem atual (salvo sobre a evolução da tecnologia e o que ela nos vem nos causando ao longo do tempo, claro) quando fala sobre a nossa falta de atenção por causa das telas. É um livro repleto de informações importantes e de fácil acesso.
No fim, o autor conta sua experiência ao abandonar, junto com a família, a internet no fim de semana e como isso contribuiu para eles.
“O superficial atrai o superficial. Quando a vida deixa de ser interior e privada, a conversa se deteriora em mera fofoca. […] Na proporção em que nossa vida interior fracassa, vamos cada vez mais, e cada vez mais desesperados, aos correios. Podem ter certeza: o pobre coitado que sai com o maior número de cartas, orgulhoso de sua enorme correspondência, não tem notícias de si mesmo há muito tempo”, Thoreau, página 165.
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Links úteis:
O BlackBerry de Hamlet, William Powers
A cultura importa, Roger Scruton
Lista de livros para melhorar a escrita: dicas de livros para novos escritores – Parte I
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