O ponche dos desejos, de Michael Ende
Michael Ende tem um humor afiado, e o usa muito bem em seus livros. Ele brinca com as palavras e incrivelmente suas histórias são sempre muito atuais.
Aliás, havia entre elas um monstrinho abominável, um tal de crítico literário, também chamado de sabichão ou critiqueiro. Esses pequenos espíritos normalmente passam sua vida criticando livros.
Pouco se vê, hoje, essa liberdade e diversão em livros juvenis. Alguns procuram dar tudo mastigado a seus leitores, tratando-os como incapazes de entender, pois há pessoas que se limitam quando crescem e se esquecem que já foram crianças, e que elas são muito mais inteligentes do que os adultos, ou não querem se comprometer com palavras como as citadas, a fim de agradar alguém. Claro que nem todos os adultos são assim, um grande exemplo é Michael Ende. Outro autor que me encanta por não precisar pisar em ovos para falar com as crianças é Roald Dahl.
Bem, em O ponche, Belzebu Errônius é o Conselheiro Secreto da Magia, ou seja, um mago, e todos os magos têm missões de maldade a cumprir durante o ano, mas esse mago em questão conseguiu realizar apenas uma parte de suas metas.
A história começa às 5 horas do último dia do ano – há um relógio no início de cada capítulo que marca o tempo decorrido –, ou seja, ele tem pouco tempo para completar tudo.
O relógio pendurado acima da lareira acionou sua engrenagem ruidosa. Era uma espécie de relógio cuco, só que em vez de passarinho, o que saía da casinha era um dedão machucado, que levava batidas de um martelo.
Mas nem tudo é tão perfeito – ou nada é, no caso de Errônius. Desconfiado que ele fazia algo ruim com os animais, o Conselho Superior dos Animais mandou Maurizio di Mauro, um gato bastante maltratado, para que o espiasse.
Da mesma forma, Errônius desconfia daquela repentina aparição, e para despistar passa a mimar o gato, que se torna uma bola fofa de tanto comer. Até que surge o corvo Jacó – um espião como Maurizio –, anunciando a chegada da tia do mago, Tirânia Vampíria, que também estava com problemas, mas ela não iria admitir. E seguem divertidas bagunças enquanto um tenta enganar o outro e os animais tramam planos para acabar com tudo.
O título original de O ponche dos desejos (WMF Martins Fontes, 232 páginas), em alemão, é Der satanarchäolügenialkohöllische Wunschpunsch, lançado em 1989, já foi traduzido para muitos idiomas.
Michael Ende (1929-1995) deixou um grande legado ao mundo. Seus livros encantam até hoje e são minha grande fonte de inspiração. Em meu livro, O menino que perdeu a magia, tem bastante homenagem ao mestre.
Ende publicou seu primeiro livro, Jim Knopf e Lucas, o maquinista em 1960, que está sendo filmado na Alemanha e tem previsão de estreia para 2018.
Segundo uma pesquisa realizada em diversos países e divulgada pelo Instituto Goethe, o livro alemão preferido pelos leitores em todo o mundo é A história sem fim (Die unendliche Geschichte, 1979), que é meu livro favorito. As obras do autor já foram traduzidas para mais de 40 línguas.
O crítico literário não se preocupava muito com os outros, pois era instruído demais para acreditar na existência daqueles seres. Só ficava fungando e farejando. Afinal, fazia muito tempo que não criticava nenhum livro e estava morrendo de vontade de fazê-lo.
Recomendo também a leitura de Momo e o Senhor do Tempo, de onde o nome desse site foi retirado.
Ninguém queria admitir que sua vida estava se tornando cada vez mais pobre, mais monótona, mais fria. Quem mais sentia isso eram as crianças, pois ninguém tinha mais tempo para elas.
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Resenha publicada no Jornal Em Foco, de Brusque, SC.