Resenha

Resenha: O Monge, de Matthew Gregory Lewis

O monge (The Monk, Editora Pedrazul, 2021), de Matthew Gregory Lewis (1775-1818), é um livro ágil, em muitas partes temos várias surpresas, pequenas reviravoltas que transformam a história e a fazem caminhar, enquanto nos faz querer saber o que virá.

Antes do sermão, acompanhamos alguns personagens comuns conversando e, com todas as limitações da época, se encantando pelas moças. Como acontece muito, as pessoas querem se exibir.

Amazon ebook

Conhecemos logo o monge Ambrósio e sua tentativa de ser sempre justo e puro. Mas ser idolatrado é algo que faz bem ao seu ego. As pessoas enchem a igreja a fim de vê-lo (situação bastante comum vemos até hoje, quando os fiéis lotam os tempos a fim de ver o pregador e não a Palavra pregada. A própria Igreja diz que não se pode ter ídolos, mas, muitas vezes, ela mesma os fabrica). Ambrósio se julga imaculado.

“Todas as quintas-feiras, único dia em que aparecia em público, a igreja dos capuchinhos ficava repleta de ouvintes e seu discurso era sempre recebido com a mesma aprovação.”

Então ele é perfeito para julgar os pecados alheios, mas logo descobre o noviço de quem tanto quer cuidar e se sente bem ao tê-lo por perto.

O monge cai, assim, em pecado e se transforma naquilo que está cansado de condenar. Fala-se muito sobre virtudes, mas a prática é diferente. A virtude é aplicada aos outros. Há a luxúria, a mesquinharia, o ego… O ser humano é falho, mas é pior quando aponta o dedo para julgar o outro. “Assim, inconscientemente, adicionou hipocrisia ao perjúrio e à fraqueza de caráter.”

No livro O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde (na tradução de Oscar Mendes), há uma excelente frase que resume bem o caso: “Meu caro amigo, vejo que você começa a se tornar, com efeito, um verdadeiro moralista. Talvez chegue até a ficar como esses convertidos, ou como os pregadores protestantes, que nos previnem contra os pecados que eles próprios estão cansados de cometer”.

As ações do abade se transformam numa bola de neve que apenas cresce, ele, sedento por manter o poder, se transforma, se deixa levar a qualquer caminho errado.

Há vários personagens que têm as histórias interligadas, as tramas são repletas de segredos e medos. Como o fantasma da Freira Sangrenta, que precisa de paz para descansar. A freira que detesta sua posição, sendo ela uma obrigação por conta de uma promessa de sua mãe. Os amores ocultos, as tramas por dinheiro… A corrupção do católico.

Há muito simbolismo sobre superstição e na crença da Igreja como algo puro em que devemos acreditar cegamente.

Enquanto na “escuridão que reinava na cripta” vemos o pacto sendo aceito. O padre percebe o crescimento da maldade, mas pouco se importa, pois “a impunidade amenizou a culpa”, entendemos que a maldade é mais fácil, não precisa de tanto esforço. “Passou a desprezar o remorso.”

O monge é um romance gótico, sua primeira publicação data de 1796, e causou bastante desconforto pela forma como apresenta as traições, incesto etc., e a crítica à Igreja Católica e seus frequentadores.

Este título está no 1001 livros para ler antes de morrer.

Vaidade, tudo é vaidade”, Eclesiastes 1,2.

__

Esta resenha foi publicada na Revista Mestres do Terror.

__

Comprando através dos nossos links você ajuda a manter o Beco do Nunca.

Compre na Amazon: O Monge, de Matthey Gregory Lewis

+ Outras leituras recomendadas:

O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde

Frankenstein, de Mary Shelley.

Fausto, de Goethe.

O horror sobrenatural em literatura, de Lovecraft.

1001 livros para ler antes de morrer

___

Contatos:

Facebook | Instagram |  Twitter