Resenha: O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde
“A emoção mais forte e mais antiga do homem é o medo, e a espécie mais forte e mais antiga do medo é o medo do desconhecido”, H. P. Lovecraft em O horror sobrenatural na literatura (Supernatural Horror in Literature).
O interessante da literatura de horror é encontrar as pessoas e não exatamente monstros ou seres criados para assustar. São as pessoas de carne e osso e suas atitudes que mais assustam. O horror e a maldade estão dentro das pessoas, cada um escolhe ser bom ou não. O ser humano é essencialmente mau.
Como o Monstro de Frankenstein, história escrita por Mary Shelley (1797-1851), ele não tem culpa de sua maldade. Ele é uma criação de Victor Frankenstein.
Do prefácio: “Através de Lorde Henry, Wilde apresenta seu posicionamento crítico quanto à sociedade vitoriana.”
Essa edição da Landmark é comentada e bilíngue e apresenta a primeira versão, de 1890, mais enxuta. Mais tarde, Oscar Wilde (1854-1900) acrescentou capítulos e outros detalhes.
Em O retrato de Dorian Gray (The Picture of Dorian Gray, Editora Landmark, 224 páginas, 2014), o personagem principal é egoísta e se deixa ser influenciado pela figura de Lorde Henry Wolton, que insiste com Basil Hallward, o pintor, que o apresente ao seu pupilo, e é vencido pelo falatório do amigo.
Lorde Henry se mostra um homem cruel e oculto pela sua posição na sociedade. Henry faz as vezes de Mefistófeles, como em Fausto, de Goethe (1749-1832), e induz Dorian de forma cínica. Dorian é ingênuo e Henry não permite que ele continue assim, ele corrompe a alma do rapaz e o transforma.
Assim como o personagem Fausto, Dorian também troca sua alma, nesse caso para manter sua juventude. E sua alma fica presa no quadro pintado por Basil.
“Ele puxou o biombo de volta para seu antigo lugar diante do quadro, sorrindo ao fazê-lo e foi para o seu quarto, onde o criado já o esperava.” Dorian aceita o pacto.
Ele se entrega ao amor narcisista por influência de Henry. O desejo mais íntimo de Dorian faz com que o quadro absorva todos os seus sentimentos.
Ao ocultar o quadro da visão de todos, tenta livrar também os seus olhos do horror. A alma humana é corruptível e não há outro fim para seu retrato.
Dorian é poético e mostra como é fácil corromper até a alma mais pura. E Henry é o personagem muito bem montado, que conduz seu protegido. Ele causa repulsa no leitor com seu falatório e por nunca se abalar. Assim, Dorian absorve cada palavra e se torna tão dissimulado quanto seu tutor.
Depois de um tempo, muitos na sociedade se sentem incomodados com a sua presença. Ele é proibido de frequentar um clube, pessoas se afastam quando ele se aproxima.
E durante seus anos de eterna juventude, o rapaz não tem a tranquilidade que o ser humano necessita para ficar em paz. Há sempre a preocupação se alguém descobrirá o quadro escondido num quartinho empoeirado onde ninguém tem acesso. Isso o leva à loucura.
“Há um clímax súbito e potente quando Dorian Gray, que por fim tornou-se assassino, tentou destruir o quadro cujas transformações são o testemunho da sua degeneração moral”, H. P. Lovecraft.
Esta resenha foi publicada na Revista Mestres do Terror.
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